Os meninos na escola
Por Ângela Sun as 2:56 PM - quarta-feira, setembro 24, 2008
Bem, não vou começar me desculpando pela demora em dar notícias, pois já não tenho mais desculpas.... vou escrever sempre que conseguir, ou seja, sempre que tiver tempo, inspiração, paciência e o computador estiver livre, pois isto é a coisa mais difícil por aqui.... acho que estamos precisando de outra maquininha, hehehe..Vamos lá...
Vim falar, especialmente, sobre as crianças e a escola. Como vocês já sabem, o Felipe, que tem 4 anos (ele faz 5 anos na 2a. feira, dia 29/9), é uma figura. Chegou no primeiro dia da escola como se já fosse local, sem nenhuma inibição ou medo, foi logo entrando e se enturmando. Fiquei um pouco apreensiva, pois achei muito fácil, mas não queria valorizar, então fui embora. Depois, a professora me disse que, só por um instante, ele ficou com carinha de choro e depois passou. Acho que foi um momento de saudade ou insegurança, mas ele pode, afinal, tem sido um guerreiro. Desde então, seus dias têm sido assim, super naturais. Tão natural que um dia cheguei na escola para buscá-los e ele estava em cima do muro com mais dois coleguinhas. Quando a professora viu, foi na direção dele, mandou ele descer e disse: "Felipe, say sorry Mrs. Lockey". Como ele não entende nada, saiu correndo e não deu a mínima. Então, eu o chamei e mandei que ele dissesse "sorry" para a professora, ele voltou, olhou para ela, gritou um "sorry" muito apressado e se mandou e eu fiquei com cara de boba, olhando a professora, que sorriu.
Ele nem se importa se fala inglês ou não. Ele fala português com a professora e vai embora. No outro dia, o tênis estava desamarrado, ele correu para a ela, esticou o pé e disse: "amarra", ela obedeceu de pronto e ele saiu correndo.... esse é o Felipe...
Agora o Gabriel.... ah o Gabriel, esse sim dá trabalho.
A escola tem o programa do ESL (English as a Second Language), onde a criança passa 1:30h do dia numa sala com uma professora que ensina inglês para quem não fala a língua. Bem, ele deveria ficar somente 1:30h por dia, mas na primeira semana chorava tanto que passava o dia inteiro na sala da Mrs. Jensen, a professora equatoriana que ensina inglês. Chamaram até uma menina portuguesa para ajudá-lo, principalmente na hora do recreio, pois ela não pode sair da aula dela para ajudar o Gabriel. Pois bem, a Andrea virou o par dele no quintal. Ela é um amorzinho, tem 9 anos (quase 10), está na 5a. serie e o Gabriel na 3a. serie, e ela tem ajudado bastante.
Ele morria de medo de ir para a sala do Mr. Mancuso. Também pudera, com um nome desses, até eu ia ter medo dele. O fato é que o tal professor não fez questão nenhuma de ser simpático, amigável ou tentou se aproximar do Gabriel e isso deixou ele com mais medo ainda. Passamos a semana toda conversando com ele, tentando fazê-lo mais forte e seguro, pois na semana seguinte ele teria que ir para a sala do Mr. Mancuso de qualquer maneira.
Na 4a. feira eu falei com o diretor sobre a atitude do professor e à tarde o Gabriel me contou que o professor passou por ele e disse "oi" e ainda deu um tapinha em suas costas. Achei que tinha tido progresso, mas nada, alarme falso. Na 6a. feira, o diretor viu o Gabriel chorando na entrada da escola e chamou o professor. Ele explicou que o Mr. Mancuso era o professor mais popular e legal da escola. Foi então que o Mr. Mancuso disse ao Gabriel que só queria que ele ficasse em sala e escutasse, que não ia pedir nada a ele. O grande medo do Gabriel é o professor pedir para ele fazer um trabalho ou exercício e ele não saber fazer, porque não entende nada. A partir daí, conversamos com ele e ficou decidido que ele iria para a sala do Mr. Mancuso na 2a. feira, isso com ele aos prantos. Isso parte meu coração, pois é nítido que ele chora com dor, com medo, com desespero, como se me pedisse socorro e eu tenho que ser forte para não passar nada para ele.
Chegou a 2a. feira e eu nem fui na escola, deixei para o Diniz que é mais frio que eu. Conclusão: o Diniz abandonou o menino na escola, aos prantos, mas saiu de lá com o coração partido também. Quando foi 11hs o telefone toca e a secretária da escola diz que o Gabriel quer falar comigo. Ele mal consegue falar, eu tento acalmá-lo, mas tento ser firme. Vinte minutos depois, liga a secretária de novo me pedindo que fosse buscá-lo. Quando voltamos, à 1h da tarde, não teve jeito, ele foi para a sala do Mr. Mancuso e não me ligaram mais. Quando ele saiu da escola, estava todo sorridente e me contou que o tal monstro (Mr. Mancuso) não era tão monstro assim, que ele era engraçado, pois todos riam das palhaçadas dele, menos ele, pois não entendia nada, mas às vezes até que dava para ele rir um pouquinho. Depois de tanto stress, ele passou a semana toda indo super bem para a escola, sem chorar nem um dia. Depois dessa semana, combinamos que na semana seguinte ele iria passar a almoçar na escola, junto com os coleguinhas. Mais uma batalha a ser vencida. É claro que ele não queria, preferia que eu fosse buscá-lo para almoçar em casa, mas combinado é combinado. Fiz o lanche dele e combinamos que eu chegaria mais cedo para levar o Felipe (que entra às 13hs) para que ele pudesse falar comigo. Graças a Deus ele estava bem e sorridente e tem sido assim a semana toda.
A próxima batalha será quando nos mudarmos desta casa, pois como o Diniz disse, pretendemos que ela seja temporária, até ele arrumar um emprego e possamos nos instalar num local melhor, mais novo e com nossos próprios móveis. Aí eles terão que mudar de escola e vai começar tudo de novo, mas vou deixar para pensar nisso no momento que acontecer.
Abraços a todos